Entre aplausos diplomáticos e realidade: o que Lula trouxe (ou não) de Paris
INTERNACIONAL
Emanuelle Zamith
6/14/20251 min read
A visita do presidente Lula à França nesta primeira semana de junho teve pompa, tapete vermelho e discursos. Foi bonito de ver — e talvez esse seja o problema. Em tempos em que a diplomacia parece cada vez mais performática, temos que questionar: o que exatamente o Brasil está ganhando com tudo isso?
Lula foi recebido com homenagens na Academia Francesa, participou da abertura do Ano Cultural Brasil-França, discursou em defesa do multilateralismo, além de renovar o apelo pelo acordo entre União Europeia e Mercosul. Também foi anunciado um acordo de 120 milhões de euros com a Agência Francesa de Desenvolvimento para projetos sustentáveis no Sul do Brasil. Tudo isso importa, claro. Mas o impacto real dessas iniciativas dentro do Brasil ainda é uma incógnita.
O risco é transformar política externa em um desfile de intenções sofisticadas, bem articuladas, mas pouco ancoradas em resultados práticos. Lula tem feito um esforço legítimo de reposicionar o Brasil no cenário internacional, resgatando pontes destruídas nos últimos anos. Isso merece reconhecimento. Mas a crítica não é à aproximação com a França, que é uma aliada relevante e com histórico de parcerias importantes. A crítica é ao modelo de relação que se repete: muitos acenos simbólicos, poucos compromissos concretos. O acordo Mercosul-União Europeia, por exemplo, continua travado, e o Brasil segue pressionado a ceder em temas ambientais e comerciais sem garantia de contrapartidas justas.
É ótimo ver o presidente brasileiro ser celebrado como estadista. Mas o Brasil precisa mais do que prestígio: precisa usar esses momentos para construir políticas públicas robustas, que tragam inovação, empregos e soberania. A política externa não é só uma vitrine — é uma ferramenta de desenvolvimento. E como toda ferramenta, ela só funciona se for bem usada.