Negociações em Omã: o velho jogo da diplomacia armada
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Emanuelle Zamith
5/21/20252 min read
A retomada das negociações entre Estados Unidos e Irã sobre o programa nuclear iraniano, iniciada no último sábado (12) em Omã, é anunciada por Washington como um esforço diplomático. Mas basta uma análise mais atenta para perceber que se trata menos de uma aposta na paz e mais de uma tentativa de contenção geopolítica, disfarçada de diálogo. No segundo mandato de Trump, a diplomacia estadunidense continua a funcionar com os mesmos mecanismos da chantagem e da dissuasão militar.
O Irã, por sua vez, não é uma peça passiva neste tabuleiro. Desde a saída dos EUA do Acordo Nuclear de 2015, Teerã entendeu que confiar nas garantias ocidentais era um risco estratégico. O programa nuclear iraniano se tornou, mais do que nunca, uma moeda de poder — tanto interna quanto externamente. Aceitar um novo acordo com o olhar desconfiado e punitivo de Washington seria não apenas ceder à coerção, mas comprometer sua legitimidade diante de aliados regionais e de seu próprio povo.
Portanto, as negociações em Omã não são um gesto de boa vontade — são a continuidade de um jogo de sombras entre dois polos que se acusam mutuamente de instabilidade, mas que se alimentam dela politicamente. Trump tenta passar uma imagem de líder pragmático, aberto ao diálogo. Por outro lado, acena com ameaças militares caso o Irã não aceite os termos impostos. Diplomacia sob mira de mísseis não é diálogo, é coação. E nesse tipo de conduta, o risco de colapso é maior que o de conciliação.
O contexto internacional torna tudo mais explosivo. Os conflitos recentes envolvendo Israel, Líbano, Gaza e a Síria tornam a região completamente tensa. Os EUA são parte ativa da instabilidade ao apoiar incondicionalmente aliados estratégicos e enfraquecer fóruns multilaterais. Neste cenário, qualquer tentativa de resolução duradoura precisa passar pela reformulação das lógicas assimétricas que regem a política externa norte-americana.
E onde entra o Brasil? Em um papel de espectador. O país que, em 2010, ao lado da Turquia, tentou mediar um acordo entre Irã e potências ocidentais, hoje se encontra à margem dessa agenda. A ausência de uma política externa ancorada em princípios de autonomia e vocação mediadora tem limitado o protagonismo do Brasil em temas centrais. Uma vez que o país dispõe de capital diplomático, experiência histórica e legitimidade para contribuir com alternativas ao impasse entre o belicismo norte-americano e a resistência iraniana, acaba sendo uma oportunidade não aproveitada.
As negociações de Omã não são apenas sobre urânio enriquecido, mísseis balísticos ou tentativas de controle. São sobre o futuro da ordem internacional: será ela construída com base na força ou na cooperação? O governo Trump, em seu retorno, aposta novamente na força disfarçada de negociação. O Irã responde com uma racionalidade de sobrevivência.