Todo Mundo no Rio: A Paradiplomacia por Trás do Show de Lady Gaga
INTERNACIONAL
Emanuelle Zamith
5/8/20242 min read
O megashow gratuito de Lady Gaga em Copacabana, no dia 3 de maio de 2025, que reuniu mais de 2 milhões de pessoas e se tornou o maior da história já feito por uma mulher, não pode ser interpretado só como um acontecimento cultural ou um feito do entretenimento, mas também como um episódio da política internacional contemporânea, em que as fronteiras entre cultura pop, geopolítica e diplomacia se tornam cada vez mais conectadas.
A presença de Lady Gaga no Brasil, em um show organizado no coração simbólico do Rio de Janeiro, acaba sendo um ato de projeção de poder da própria cidade e do país, que tenta reposicionar sua imagem no tabuleiro global por meio da cultura.
A prefeitura do Rio, ao promover o projeto “Todo Mundo no Rio”, que inclui shows internacionais como o de Gaga, se engaja em uma política de promoção externa que transcende as esferas tradicionais do Itamaraty. A estratégia é clara: atrair turismo, movimentar a economia local — chegando a R$ 600 milhões em impacto — e construir uma imagem de modernidade, segurança e inclusão, contrapondo com o passado recente de crise e decadência urbana.
Mas esse espetáculo de projeção tem seus limites e desafios. A tentativa de atentado frustrada, que acabou na prisão dos envolvidos, revela que o Brasil ainda não superou suas dificuldades em termos de segurança pública e combate à radicalização.
Um outro questionamento importante é: até que ponto o Brasil está exercendo seu próprio soft power? Será que ele está apenas reproduzindo um modelo estadunidense de hegemonia cultural? Quando celebramos a presença de Gaga em Copacabana, estamos projetando nossa própria força simbólica ou apenas reforçando o poder cultural de uma artista estadunidense com status global?
O país, que tem um dos carnavais mais celebrados do planeta, uma música popular de repercussão internacional e uma cena artística vibrante, precisa avaliar criticamente se está ocupando o papel de protagonista ou de coadjuvante em sua própria narrativa de inserção internacional.
Se eventos como esse forem acompanhados de uma política cultural sólida, investimentos em segurança estrutural e uma diplomacia que valorize nossa produção simbólica própria, o Brasil pode, de fato, se consolidar como um polo de influência cultural relevante no século XXI. Caso contrário, corremos o risco de nos contentar com o papel de palco iluminado para os espetáculos dos outros — bonito, vibrante, mas sempre periférico.