Vietnã entra no BRICS: o que isso diz sobre o Brasil?

INTERNACIONAL

Emanuelle Zamith

5/8/20242 min read

Nos últimos dias, o Vietnã foi oficialmente aceito como membro parceiro do BRICS, que vem ampliando sua atuação global e seu número de integrantes. O anúncio não passou despercebido. Com uma economia em rápido crescimento, um papel geopolítico cada vez mais relevante no Sudeste Asiático e laços fortes com a China, o Vietnã representa um reforço estratégico ao grupo. Mas, mais do que isso, a entrada vietnamita oferece uma oportunidade para refletirmos sobre o papel do Brasil dentro do BRICS e nas disputas de liderança do Sul Global.

É importante entender que "membro parceiro" não é o mesmo que "membro pleno". O BRICS adotou uma nova estrutura que permite a entrada gradual de países por meio de estágios. Membros parceiros não participam das decisões centrais, mas podem integrar iniciativas econômicas e fóruns políticos. O modelo busca ampliar a influência global do grupo, mas sem comprometer o funcionamento interno, que exige consenso entre os fundadores.

E é nesse ponto que o Brasil tem feito valer sua voz - vetando, por exemplo, a entrada da Venezuela como membro pleno, mesmo com apoio da China e da Rússia. A justificativa oficial foi preservar a “estabilidade interna do grupo”, mas nos bastidores, pesaram o desgaste político da Venezuela no sistema internacional e o risco de alimentar ainda mais a polarização doméstica brasileira.

O caso mostra como, mesmo em uma coalizão que busca romper com a ordem global dominada pelos EUA e pela Europa, a diplomacia brasileira ainda atua com cautela. O Brasil, ao mesmo tempo que defende o multilateralismo e uma nova governança global, se vê preso à necessidade de equilibrar a política externa com as pressões internas. Isso limita sua ousadia no cenário internacional, inclusive dentro do próprio BRICS.

Por outro lado, a entrada do Vietnã pode abrir novas possibilidades de cooperação comercial. O país tem acordos de livre comércio com a União Europeia e o Reino Unido, exporta produtos de alto valor agregado e tem atraído cadeias produtivas que buscam alternativas à China. O Brasil pode se beneficiar de parcerias nas áreas de tecnologia, energia renovável, defesa e até agricultura. Mas isso exige uma política externa proativa, com foco em estratégias de médio e longo prazo, e não apenas em gestos diplomáticos pontuais.

Em meio a um mundo cada vez mais fragmentado, com tensões entre blocos e reorganizações geopolíticas constantes, o Brasil precisa decidir que tipo de membro quer ser dentro do BRICS: um ator que apenas acompanha o fluxo ou um articulador estratégico que sabe usar o espaço a seu favor.